06 janeiro 2020

Book Review - “História de mulheres”  Raquel Sá





BOOK REVIEW:
“História de mulheres”






















                               Raquel Sá, 8271


1.   Caraterísticas do livro

Título: Histórias de Mulheres
Contexto da autora: Rosa Montero

Rosa Montero nasceu em Madrid em 1951 e estudou Jornalismo e Psicologia. Como jornalista, colabora atualmente em exclusivo com o jornal El País, tendo obtido, em 1980, o Prémio Nacional de Jornalismo e, em 2005, o Prémio da Associação da Imprensa de Madrid, por toda a sua vida profissional. É conhecida pelo seu grafismo simples e “páginas arejadas”, sendo vista como uma figura central da literatura espanhola contemporânea.
Sinopse: Quinze mulheres extraordinárias, com trajetórias distintas e algo em comum: a capacidade de desafiar as normas vigentes, superar preconceitos e marcar seus nomes na história. Com a delicadeza que caracteriza seus livros, Rosa Montero mescla em seus textos informações biográficas relevantes e referências apaixonadas a mulheres como Simone de Beauvoir, Camille Claudel e Frida Kahlo, sinônimos de poder, criatividade e genialidade.

2.   Introdução
A autora inicia a introdução com uma reflexão sobre a sociedade, onde a mesma referencia que “ foi preciso vir o positivismo e a morte definitiva dos deuses para que os habitantes do mundo ocidental desdenhassem da imutabilidade da ordem natural e começassem a interrogar-se em massa sobre o porquê das coisas(…) os numerosos porquês relativos à condição da mulher: diferente, distante, subjugada. Existe uma afirmação de Rosa Montero sobre o facto de ao longo dos tempos existir um medo do poder que as mulheres realmente detêm começando por explorar algumas mulheres poderosas dos primórdios da criação, neste caso deusas como Pandora (a primeira mulher segunda a mitologia grega) que foi criada por Zeus para castigar os homens atribuindo-lhe uma jarra que continha várias desgraças que esta acabaria por abrir por “curiosidade feminina”; assim como ainda o exemplo de Adão e Eva onde mais uma vez a “curiosidade feminina” influencia Eva a comer a maçã proibida que tem como consequência o casal ser expulso do paraíso.
Ambas as histórias fazem a mulher parecer um ser fraco, e sem juízo. A autora continua a introduzir histórias de mulheres de tempos antigos e conclui que as mulheres foram sempre consideradas cidadãs de segunda classe tanto no Ocidente como no Oriente e apenas no século XIX apareceu a “questão da mulher” como um problema social. Depois deste contexto percebe-se que,apesar de pequenos passos dados em caminho da igualdade entre géneros, esta está ainda longe de ser atingida na sociedade atual.
Das várias mulheres retratadas nesta obra, escolhi explorar a história de Agatha Christie, que é uma mulher da qual sempre ouvi falar e sempre tive interesse em conhecer melhor mas nunca tinha efetivamente explorado a fundo todo o seu “background”. Quis o destino que esta fosse a primeira mulher descrita na obra de Rosa Montero.
3.   AGATHA CRISTIE
“ (…) a existência de Agatha Christie é uma longa fuga da negrura, um combate secreto contra o caos”
Rosa Montero introduz Agatha Christie como uma mulher que raramente mostrava os dentes quando se ria pois sempre foi insegura com a sua aparência. Nasceu em 1890 e portanto faz parte da geração britânica que teve de enfrentar as primeiras ruínas do império. Acabava-se o reinado Vitoriano que tinha um conceito muito preciso e uma visão do mundo muito firme onde tudo tinha o seu sentido e lugar. Esta visão foi destruída por uma visão mais científica e factual do mundo que Darwin apresentou à sociedade, o que acabou com a credibilidade que as doenças, por exemplo, eram um castigo de Deus.
Enquanto autores como Virginia Woolf e Lytton Stratchey construíram obras a aceitar esta desordem social, Agatha Christie passou toda a sua vida, segundo Rosa Montero “lutando contra o caos”. Agatha sempre tentou ser a esposa e a filha ideal, tentado assim inserir-se nos padrões tradicionais destes papéis. Para além disso, tentou sempre continuar com valores morais vitorianos de ordem e de normas, o universo intacto da sua infância que era a única memória estável e feliz até então. Escreveu seis livros, onde usava o pseudónimo de Mary Westmacott, nos quais eram retratados romances policiais onde se transmitia uma ideia de que a realidade era descontínua, narrando a crise de uma mulher convencional, burguesa e aparentemente feliz que de repente percebe que a existência não é como esta pensava.
Agatha era uma mulher aventureira que gostava muito de viajar “capaz de viver durante meses numa tenda no deserto da Síria ou de casar em segundas núpcias com um homem 15 anos mais novo do que ela”. Isto tudo numa época em que este tipo de comportamento era uma afronta à sociedade e tinha as suas respetivas consequências.
Apesar de uma vida adulta atribulada pela morte da mãe e pela indiferença do primeiro marido, Agatha, que pensava que tudo na vida era fruto de um conjunto de normas sensatas, revolta-se contra a ordem social e começa um caminho de descobrimento pessoal. Ficou conhecida pelo gosto que tinha pela vida e pela sua constante vontade de ser feliz. Rosa Montero reflete sobre como a Agatha Christie que se manifesta na sua obra “Vem e diz-me como vives”, é aquela que a autora gosta mais pois transparece uma mulher divertida e extravagante que via o melhor da vida nos pequenos momentos que passavam ao lado à maior parte das pessoas.
Agatha começa a fazer a sua autobiografia em 1950 e põe um ponto final às suas memórias escritas pois achou o momento indicado para parar, segundo a própria, “No que diz respeito à vida, isto é tudo o que há para dizer”. Rosa refere também outra razão para este ponto final, sendo ela o facto de Agatha ter acompanhado a doença senil dos seus avós de perto e por isso ter receio de ter o mesmo fim e enlouquecer. A verdade é que este foi mesmo o seu desfecho, desenvolvendo uma doença mental que eventualmente levaria à sua morte.
Em jeito de conclusão, Rosa Montero escreve: “ Ela, que sempre lutara tanto, que sempre lutara tanto para manter o controlo, que sempre fugira do medo interior e das trevas, foi apanhada no fim pelo perseguidor. Talvez todos tenhamos dentro de nós o nosso próprio perseguidor; talvez ele acabe sempre por nos apanhar; talvez saber isso e não nos assustarmos seja o próprio segredo da existência.

4.   Relação entre livro-liderança
Eu tive muito prazer em ler esta obra e ficar a conhecer várias personalidades femininas que abalaram a sociedade do seu tempo de maneiras diferentes, deixando a sua marca e abrindo caminho para outras mulheres que eventualmente pudessem inspirar-se nelas. Consegui conectar a história de Agatha Christie com o significado de liderança pois penso que, uma mulher que estava conformada e em fase de negação com a evolução da sua vida, tomou as rédeas e não se deixou levar pelas regras que a sociedade da altura enaltecia.
Agatha Christie era uma mulher que vivia na sombra dos seus problemas e, inclusive, na sombra do seu marido e eventualmente, depois de ir ao “fundo”, percebeu que ela própria comanda o seu destino da sua vida. Esta força de vontade e especialmente esta força de visão que impulsionam uma mudança do ambiente (neste caso na vida de Agatha Christie), que podemos adaptar para o mundo dos negócios pois, a mudança é o fator indispensável para alcançar o sucesso. Atualmente, um líder tem de conseguir fazer uma análise do ambiente (micro e macro) que envolve a sua empresa e saber o que mudar ou adaptar em função da evolução da sociedade e do mercado.

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