06 janeiro 2020

Book Review: No Easy Day - The only easy day, was yesterday - by Raul Monteiro de Sá

Book Review

"No Easy Day - The Only Easy Day Was Yesterday"




No Easy Day é um livro da autoria de Mark Owen, nome fictício para o ex-Navy Seal que atingiu a tiro e matou Bin Laden. Mark tinha o rank de “Chief” na famosa Seal Team Six, a equipa de forças especiais que executou esta arriscada e elaborada missão, fazendo parte da unidade DEVGRU (United States Naval Special Warfare Development Group). Esta unidade inclui membros dos quarto ramos das forças especiais, sendo a elite da elite das forças especiais americanas. Natural de uma pequena aldeia do Alaska, com apenas 2300 habitantes, filho de missionários, Mark juntou-se com 18 anos à marinha americana, tendo revelado ao longo da sua carreira militar valor, liderança e sentido de dever acima da média, sendo premiado com variadas medalhas, promoções e integração na unidade especial DEVGRU. 

O autor começa por retratar os primeiros passos do seu percurso militar nos Navy Seals e os rigorosos que desafios que se seguiram à sua entrada. Mesmo já sendo militar graduado, Mark teve que enfrentar nove meses de rigorosos testes para entrar na equipa de elite, Seal Team Six. Faziam parte destes testes tiro, combate corpo a corpo, combate em espaços confinados, mergulho, entre muitos outros. 

Após ultrapassar este árduo período com sucesso deu-se a concretização de um dos seus sonhos e objetivos de carreira, entrar na equipa Seal Team Six. Mark passa então a descrever algumas das suas primeiras e mais importantes missões, com especial destaque para operações no medio oriente, em países como Afeganistão, Iraque, Iémen, Somália, Golfo de Áden, entre muitos outros perigosos e remotos locais.

Entre algumas destas perigosas missões achei especialmente interessante o facto de Mark ter participado no resgate do capitão Richard Philips, preso por piratas no navio mercante Maersk Alabama, em águas territoriais da Somália. Uma operação complexa, onde Mark foi o atirador de precisão (sniper) designado a neutralizar em pleno mar múltiplos piratas, alguns com reféns a servir de escudo humano. Tudo isto com ondulação fortíssima, o que não permitia a Mark ter as condições exigidas para tiro de precisão, principalmente com a vida de reféns em jogo. Além de tudo isto Mark teve a função de liderar as equipas de abordagem e ataque ao longo do resgate. Com condições muito difíceis e mutáveis ao minuto, o autor revelou-se um exímio líder, capaz de adaptar a sua liderança a qualquer desafio ou mudança de condições, algo que já tinha sido notado ao longo do seu treino como Navy Seal por oficiais superiores. Este resgate por sua vez deu origem ao famoso filme “Captain Philips”

Como consequência da sua excelente performance e capacidade como líder de equipa nesta operação, Mark foi promovido ao rank de “Chief Petty Officer” e designado como team leader de uma das equipas de abordagem do Seal Team Six. Após este enquadramento da sua vida e carreira enquanto militar, o autor descreve a chamada que provavelmente mudou para sempre a sua vida. 
Em 2011, Mark recebe uma chamada do seu oficial superior, a indicar que deveria regressar à base, na Carolina do Norte, onde em conjunto com mais vinte e oito especialistas e um cão iriam treinar ao longo de largos meses para uma importante e especial missão. O alvo de toda esta preparação foi mantido em segredo, não sendo revelado até dias antes de ser dada luz verde para a operação. Neste momento é nos introduzida “Jen”, nome fictício para a analista da CIA que ao longo de mais de cinco anos “caçou” Bin Laden, com uma dedicação e método assinalável, o que impressionou o próprio autor. Jen tinha conseguido identificar um “lead” muito forte relativamente à localização de Bin Laden, num complexo murado, altamente fortificado em Abbottabad, no Paquistão. Jen seguiu durante meses um militante associado à Al-Qaeda que fazia de correio para quem se encontrava instalado neste complexo. 

Algo que me causou especial impacto durante a leitura e que refletiu bem a importância e preparação destas missões foi a construção de um complexo igual ao de Bin Laden na base dos Seal Team Six, fruto de todas as informações recolhidas por Jen, onde durante meses a fio os vinte e oito especialistas treinaram ao detalhe esta operação. 

Assim, ao fim de meses de treino e de grande ansiedade por saber quem seria o alvo de toda esta preparação, o autor relata que foi transferido em conjunto com a sua equipa para uma base no Paquistão, onde após o presidente dos Estados Unidos dar luz verde à operação foi transmitido a Mark e à sua equipa que o alvo seria o homem mais procurado e elusivo de todos, Osama Bin Laden.  

Nessa própria noite e sob a escuridão e silencio noturno, os 28 operacionais entraram nos helicópteros (estes ainda em fase de protótipo, uma vez que não fazem qualquer barulho e são imunes a deteção radar) e dirigiram se para o complexo em Abbottabad. Tudo isto foi feito em total segredo, mesmo das próprias autoridades do Paquistão uma vez que não podia existir o risco de Bin Laden ser avisado e escapar. A tensão destes momentos é indescritível e o autor fez um excelente trabalho ao conseguir transmitir isto mesmo ao leitor. 

Ao chegar ao complexo, o helicóptero experimental onde seguia Mark teve uma avaria e despenhou-se no jardim murado do complexo. Todo o plano ensaiado e treinado durante meses desabou em poucos segundos. Por ação do experiente piloto, o helicóptero caiu de forma suave e nenhum dos operacionais ficou gravemente ferido. No entanto, Mark retrata a perda de consciência por breves segundos durante o impacto e o rápido momento em que entende que o plano falhou e que ele e os restantes team leaders terão que modificar o plano, improvisar, liderar e atacar o complexo. Mais uma vez Mark demonstrou as suas capacidades de líder inato ao focar a sua ação em comandar os seus operacionais, segmentando a sua ação em verificar se todos se encontravam bem, destruir o helicóptero protótipo caído, reorganizar as equipas, abordar as entradas definidas do complexo, atacar e neutralizar o importante alvo. A operação decorreu com sucesso, tendo sido todos os ocupantes da casa neutralizados à exceção das mulheres e crianças presentes. 

Era agora necessário evacuar com toda a urgência e levar junto da sua equipa num único helicóptero, lotado, o corpo de Bin Laden e todos os discos e documentos recolhidos na sua habitação. Após testes de ADN confirmarem a identidade de Bin Laden, o seu corpo foi atirado ao mar para diminuir o peso no helicóptero e os operacionais regressaram à base onde aguardava Jen, que ao saber da confirmação da identidade de Osama, chorou, num momento em que todos pensavam em celebrar, tal era o impacto desta notícia na sua vida recente.[1]

No Easy Day e Liderança e Negociação

Após a minha leitura e reflexão acerca do livro de Mark são bastantes as ligações que são possíveis estabelecer com a matéria abordada em Liderança e Negociação. Em primeiro lugar, Mark cedo demonstrou ser um líder durante o seu treino como Navy Seal, ao liderar as suas equipas de operadores em importantes e arriscadas missões. Demonstrou ser um Líder Carismático pois inspira os seus operadores com o seu comportamento enquanto líder, com a sua disciplina e bravura face a condições muito adversas, o que catapulta os que estão à sua volta a seguir o exemplo e a ir além do dever, além do expectável. Os seus operacionais tiveram sucesso acima da média e foram capazes de completar missões que por vezes pareciam impossíveis não porque Mark era o seu superior hierárquico e assim o exigia, mas sim porque Mark os inspirava, motivava e liderava para assim acontecer. 
A confiança dos seus operacionais na sua capacidade de liderança era total e só assim podia ser face às situações complexas e adversas que enfrentavam. O próprio facto deste tipo de liderança ser mais provável surgir em contexto de crise corrobora esta conclusão. Identifico Mark também como um Líder Transformacional uma vez que era claramente um líder respeitado, admirado, acreditado, com o qual os seus seguidores se identificavam e que, pela natureza das suas funções, partilhava os riscos com os seus operadores, liderava na frente de combate. Ao mesmo tempo, prezou sempre por estimular o esforço e dedicação dos seus operadores, tendo contribuído para a promoção de vários operadores que fizeram parte da sua equipa. Seguindo a ética militar, a crítica individual apenas existia se merecida e em última instância. Os erros eram tratados como de equipa de operadores e quase nunca de forma individual, muito menos promovendo o ridículo de outros membros da equipa. Todos valiam por um só. 

Encontrei também algum paralelismo entre o que se passou na abordagem ao complexo de Bin Laden, no momento em que caiu o helicóptero e o vídeo “Who Moved My Cheese?” pois provou que Matt era capaz de sair da sua zona de conforto, mesmo após meses de treino para tudo correr de certa forma e no último segundo tudo se modificar. Matt provou que acima de tudo treinou o seu método e capacidade de liderança e assim foi capaz de modificar, adaptar, decidir e chegou ao seu “queijo”. 

Apreciei bastante a leitura deste livro, onde descobri que por trás dos grandes momentos da história moderna estão quase sempre grandes homens e mulheres e acima de tudo grandes líderes para os inspirar a fazer o que para muitos por vezes parece impossível. Concluo citando o mote dos Navy Seals “No Day is an Easy Day” mote que penso refletir corretamente a vida de Mark.


Bibliografia:

Owen, M. & Maurer, K. (2012), No Easy Day, Dutton Penguin

Para citar este texto, utilize o seguinte MODELO de referência bibliográfica:


Monteiro de Sá, R. (2019).  No Easy Day -Book Review. Research oriented by PhD Patrícia Araújo within “ Leadership and Negotiation Curricular Unit and Presented at Ipam Leadership Challenge. 3ª Ed. Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration.





[1] “Mark” foi mais tarde revelado como Matt Bissonnette e acusado pelo departamento da defesa dos Estados Unidos de revelar uma operação secreta, colocando em risco a sua identidade e a dos seus operacionais para proveito próprio, algo que Matt refuta ainda hoje, justificando a sua obra como a imortalização da coragem e sentido de dever sua e dos seus operacionais e não dos políticos que rapidamente se apressaram para retirar dividendos desta valerosa ação.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Escreva aqui o seu comentário ...