06 janeiro 2020

“Lembra-te que és mortal” – Book Review do livro "Humildade e Soberba" de Arménio Rego, por Joana Campos


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Sobre o autor


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Arménio Rego autor e coautor de inúmeros livros nas áreas de liderança e de gestão de pessoas. É professor catedrático convidado na Católica Porto Business School. Tem diversos trabalhos de investigação premiados nacional e internacionalmente. Move-o o desejo de contribuir para a melhoria das organizações, do ponto de vista económico, humano e social. 




O livro “Humildade e Soberba“tem como objeto principal a questão da liderança. Apresenta abundantes casos de exemplos de líderes e organizações conhecidas e, elucida como a autoconfiança, o poder e o sucesso, se podem transformar em arrogância e soberba. A humildade é apresentada como o antídoto essencial para que o líder, não se deixe influenciar por uma posição narcisística. 
A obra reflete a facilidade com que os líderes, à medida que ascendem na escada do poder, e se rodeiam de pessoas que lhes dizem aquilo que eles querem ouvir, tornam-se facilmente soberbos e arrogantes. 
O autor defende a importância da humildade na liderança, por não só, criar mais proximidade social e emocional com os liderados, como também, permite que o líder tenha “os pés assentes na terra”, evita a ostentação e a visão narcisística da situação. O autor utiliza a palavra - húmus (terra) para transmitir essa consciência. 
Sendo a humildade uma competência ainda desvalorizada e incompreendida, por ser facilmente confundida com fraca autoestima e escassa autoconfiança, esta é uma capacidade que torna os líderes capazes de ouvir vozes críticas, escutar, assumir erros e aprender com os mesmos. Naturalmente que, sendo a humildade uma condição necessária não é suficiente para se alcançar o sucesso. Permite que o líder se “conscialize das suas forças e fraquezas, reconheça as suas qualidades e esteja disposto aprender “(pag.51). Assim, a humildade incorpora duas dimensões: a intrapessoal e interpessoal. A última com maior peso, quando se trata de liderança com os liderados. 

Uma abordagem interessante que o autor faz para situar a humildade e arrogância, nas caraterísticas dos líderes, é confrontar estes dois conceitos com a questão do conhecimento.  Quando o conhecimento é superior à confiança, o líder situa-se na zona de insegurança, o que o torna inseguro e incapaz de corresponder aos desafios. Quando a autoconfiança é superior ao conhecimento, o líder habita a zona da arrogância. O autor sugere que é possível ser-se humilde, mas também arrogante.  O retorno apenas é positivo, quando a humildade é acompanhada de consciência e de conhecimento atualizado permanentemente. 
Um facto de reconhecimento é que os soberbos tendem a ocupar mais espaço mediático do que os humildes. Necessário será reconhecer também que, muitos líderes humildes fracassam, não por serem humildes, mas por estarem sob ausência de outras qualidades. 
A humildade em demasia, também não é a situação ideal. Pode ser problemático, a partir do momento, em que os méritos do líder e as suas realizações, são subestimadas.  
A competência, perseverança e a resiliência dos fracassos são cruciais no sucesso. 
O líder humilde apoia os liderados e partilha conhecimentos e informações. É multiplicador de talentos e protege-os muitas vezes da exaustão emocional em situações críticas. 
O livro refere ainda uma investigação entre Portugal e os EUA onde sugere que os melhores líderes são dotados de humildade e ambição (Humbição). A humildade e garra dos líderes contribuem para dois tipos de forças psicológicas dos liderados: 
                 - Capital psicológico: autoconfiança/determinação, otimismo e resiliência
                 - Garra: perseverança em prol dos objetivos de longo prazo. 
A garra deve sempre acompanhar-se de humildade para não cair em efeitos perversos. 
No mundo empresarial português, existem também exemplos de lideranças com humildade. Como o que escreve sobre a opinião de testemunhas que privaram com Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés, que reconhecem a sua humildade. 


E quando os líderes voam demasiado alto?
A soberba dos líderes contamina toda a organização. O mito grego de Ícaro é uma personificação disso mesmo: “Não voes demasiado alto para que o sol não derreta as asas, nem demasiado baixo para que as ondas do mar te danifiquem as penas”
Quando a húbris – excesso de confiança, ambição e arrogância se juntam, leva os líderes a ultrapassarem os seus limites. 
Os casos expostos no livro transparecem o perigo da hubris nos líderes. Exemplo disso foram a Central de Fuskushima e de Chernobyl. Duas catástrofes que demonstram o poder da soberba. 
A central nuclear de Fukushima e a sua liderança estavam dominadas pela “segurança pela” – subestimou os efeitos de um possível tsunami, defendendo que não necessitariam de implementar melhorias nos procedimentos de segurança. Chegando mesmo a remover-se 25 dos 35 metros de altura de um muro. 
A indiferença à soberba também afetou responsáveis pela cidade de Chernobyl, (hoje cidade fantasma), os engenheiros soviéticos proclamaram altivamente que um acidente nuclear jamais aconteceria, tendo ocorrido posteriormente o pior acidente nuclear da história. Foram tomados pelo excesso de confiança. 
Um outro exemplo de ganância e soberba, foi o caso de Richard Fuld que conduziu o Lehman Brothers ao precipício, denominado o “gorila de Wall Street”. O caso do Banco português BES, dominado por Ricardo Salgado, foi fruto do mesmo mal. 

Qual o antídoto para a húbris que vimos anteriormente? 
O autor defende que a humildade pode funcionar como um lembrete permanente -“lembra-te que és mortal”. Um dos mais enaltecedores da húbris é o sucesso continuado podendo conduzir o líder á invencibilidade. Nesse sentido, o tomar contacto com a realidade operacional, escutar diretamente liderados e clientes, respeitar os opositores, respeitar as pessoas que digam a verdade e promovam o “desrespeito saudável”, são todos complementos do antidoto para potenciar o sucesso.  No fundo “descer à terra”, perceber a essência e a origem do que nos rodeia, torna-nos mais humanos e favorece positivamente as decisões. 


Visão crítica da obra


A leitura deste livro foi surpreendente. O tema da humildade é transcendente a todas as relações do ser humano, quer a nível profissional, social, quer nas relações familiares.
Tenho a humildade como um dos meus princípios de vida e, quem me conhece, sabe tão bem quanto eu, como gosto de ouvir os outros e de os respeitar.  Para mim, humildade é sinónimo de verdade, de natureza e transparência.  A consciência da finitude e da transição das coisas, leva-me a valorizar as conquistas, não as utilizando para autoengrandecer, mas sim para prazer momentâneo. Sim, gosto de ser reconhecida, mas não utilizar isso contra outros ou, para me superiorizar em relação a alguém. 
Acredito que quando existe uma humildade genuína, esta é identificada na pessoa, independentemente da sua condição de vida ou do seu nível socioeconómico. 
Com tudo o que já foi retratado no livro, resta questionar, se valerá a pena a soberba, quando num mundo de “certezas” tudo pode ser incerto? Não sabemos de onde viemos, mas sabemos que temos um fim. No caminho até lá, não valerá a pena, respeitar e ouvir os outros e conquistar as vitórias e partilhar sucessos, com os outros? Vejo o livro de Arménio Rego como uma orientação para o sucesso e espero rever algumas das suas páginas exemplares , ao longo do meu percurso profissional. 

Bibliografia

Rego, A. (2019). Liderança - Humildade e Soberba. 262.

Apontamentos das aulas de liderança 


Citação 

Campos, J. (2019).  “Lembra-te que és mortal” – Book Review do livro Liderança – Humildade e Soberba. Research oriented by PhD Patrícia Araújo within “ Leadership and Negotiation Curricular Unit and Presented at Ipam Leadership Challenge. 3ª Ed. Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration.







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