05 dezembro 2018

O Monge e o Executivo - Liderar é, antes de tudo, servir - Book Review por Alfredo Solteiro



INTRODUÇÃO   

O livro «O monge e o executivo», de James Hunter, foi originalmente lançado nos EUA, em 1998, pela editora Prima Publisher. Em 2004 foi traduzido para o mercado brasileiro, pela editora Sextante, e encontra-se no mercado português desde 2006, agora comercializado pela editora Marcador.
Ao longo do livro, o autor identifica as competências que um líder deve ter para ser bem-sucedido, tanto profissional como pessoalmente
Ser líder não é simples. Os bons executivos nem sempre sabem como lidar com os liderados, nem mesmo com aqueles que amam.
Um bom líder deve conhecer a diferença que existe entre poder e autoridade, e ter noção que o amor e a entrega total às suas ações são capazes de cativar, motivar e mobilizar todos quantos o rodeiam.
A liderança tem de incluir um conjunto de ações, que motivam de tal forma os seguidores que os conseguem mobilizar a agir de acordo com a estratégia definida.
Quanto maior for esse envolvimento, maior será o seu compromisso e empenho no alcance dos objetivos comuns.
Ao longo do livro são referidos nomes de grandes líderes da história da humanidade que, mais do que um carisma natural, possuíam algo que cativava e atraía as pessoas.
Jesus Cristo, pela forma como serviu os outros, e pelos resultados obtidos, é destacado como o grande líder: o líder servidor.

SOBRE O AUTOR

James C. Hunter nasceu em 26 de junho de 1955 em Detroit, nos EUA.
Atualmente vive no Michigan com a mulher e com a filha.
É autor de vários livros. Dois deles foram bestsellers internacionais:
•    «O Monge e o executivo».
•    «Como tornar-se um melhor líder».

Os seus livros são usados em diversos cursos de MBA e noutros cursos superiores, e já foram já traduzidos para 20 línguas, tendo vendido mais de quatro milhões de exemplares em todo o mundo.
O autor tem discursado sobre liderança através do serviço perante inúmeras plateias e, através da sua empresa de Training & Consulting (Hunter, 2018), já ensinou milhares de executivos a desenvolver este estilo de liderança.
Da sua carteira de clientes, fazem parte organizações como a American Express, a Best Buy, a McDonald’s, a Microsoft, a Nestlé e a Procter & Gamble, além do Exército, da Marinha, da Força Aérea e dos Marines dos EUA.

RESUMO DO LIVRO
Este livro narra a história, na primeira pessoa, de John Dailly, um executivo de sucesso, casado, pai de dois filhos e treinador de uma equipa de basebol. Jonh tem uma vida aparentemente perfeita e controlada. Mas tudo parece querer mudar quando um movimento sindical agita os funcionários da empresa onde trabalha, fazendo com que a sua liderança seja posta em causa. Em casa também surgem reclamações da esposa e desrespeito dos filhos. Perante esta realidade, John vê o seu mundo fugir ao seu controlo.
É então que a sua esposa o incentiva a conversar com o pastor da igreja, e para lhe pedir conselhos. Desse encontro resulta a sugestão de fazer um retiro no mosteiro João da Cruz, perto do lago Michigan para encontrar resposta a todas as perguntas.
Um aspeto curioso, que perseguia John desde tenra idade, era o facto de ter frequentemente sonhos que lhe transmitiam uma mensagem: “Encontre o Simeão e ouça-o!”. Embora tentasse ignorar, este facto deixava-o bastante curioso.
Com muita resistência e interrogação, John decidiu fazer o retiro. Entusiasmou-se por poder conhecer um dos frades do local, o lendário Len Hoffman, um grande executivo que largara tudo para viver no mosteiro.
Uma vez no Mosteiro, aconteceu algo de muito intrigante: o lendário Len Hoffman tinha adotado o nome de Simeão quando se tornara monge.
Hoffman, ou Simeão, era o responsável pelo curso de liderança que John Dailly frequentaria, juntamente com Lee (pastor), Greg (sargento do exército), Teresa (diretora de uma escola pública), Chris (treinadora de basquetebol) e Kim (enfermeira).

Desde o início da sua estadia no mosteiro que John começou a receber lições sobre liderança, começando por propor uma definição – a capacidade de influenciar pessoas a trabalhar com entusiasmo com vista a alcançar objetivos definidos e identificados como sendo comuns.
George Terry (1960, p. 5), e também Ali (2012), definiram liderança como a capacidade de influenciar pessoas fazendo-as empenharem-se, voluntariamente, em objetivos de equipa.
Peter Drucker (1996) definiu líder como alguém que tem liderados. Um líder eficaz não é alguém que seja amado ou admirado, mas alguém cujos seguidores fazem a coisa certa. A popularidade não é liderança, os resultados são. Os líderes são altamente visíveis, portanto eles dão o exemplo. A liderança não é posição, privilégio, título ou dinheiro, é responsabilidade.
A diferença entre poder e autoridade também foram abordados no retiro, e foi evocado Max Weber (1922), que definiu poder como a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer a sua vontade, por causa da sua posição ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer, e definiu autoridade como a habilidade de levar as pessoas a fazer, de boa vontade, o que se pretende, por causa da sua própria influência.
O grupo foi desafiado a enunciar características de um bom líder. Honestidade, confiabilidade, bom exemplo, cuidadoso, comprometido, bom ouvinte, conquistador da confiança, respeitável, encorajador, positivo e entusiasta e amoroso, foram algumas das referidas e, posteriormente trabalhadas pelo grupo.
Este estudo das características de um líder, salvaguardadas as devidas distâncias, pode ser comparado com a evolução que houve neste campo desde a teoria do “grande homem” defendida, por volta de 1910, por Carlyle (1840), segundo o qual os grandes avanços e progressos da humanidade resultaram da ação de homens com traços de personalidade muito específicos e vincados, até ao conceito de liderança carismática, transformacional e transacional.
Apesar da diversidade, são aceites três paradigmas principais na conceptualização da liderança (Zakeer, Allah, & Irfan, 2016):
•    o primeiro assenta no estudo dos traços da personalidade do líder.
•    o segundo apela à observação dos comportamentos adotados pelo líder no exercício da liderança.
•    o terceiro refere-se às variáveis situacionais ou contingenciais que condicionam a eficácia da liderança.
Nas últimas décadas, têm sido apontadas novas perspetivas, referindo-se ao carisma e à capacidade transformacional  dos líderes no que concerne à relação que mantêm com os membros da organização (Amanchukwu, Stanley, & Ololube, 2015).

Quadro 1. Tendências no estudo da liderança (Bryman, 1992)

Fonte: Adaptado de Bryman (1992).

Continuando com a exploração da abordagem feita pelo livro, refere-se a importância de existir um bom relacionamento entre todos, clientes, fornecedores, colaboradores, e de como lidar com as mudanças de paradigma.
Na nossa vida deparamo-nos, diariamente, com velhos paradigmas e é necessário progredir, evoluir.
No mundo dos negócios, o verdadeiro líder é alguém que identifica e satisfaz as necessidades legítimas dos seus liderados, e remove as barreiras para que possam servir o cliente, que deve ser colocado no topo da pirâmide, em vez da direção ou da presidência da empresa.
Aborda a importância de serem satisfeitas as necessidades e não as vontades, para que o modelo de negócio tenha sucesso.
Maslow (1943), estabeleceu a hierarquia das necessidades humanas, que nos ajuda a identificar as necessidades mais prementes de satisfação.
Quadro 2. Hierarquia das necessidades de Maslow (1943)
 

Fonte: https://www.simplypsychology.org/maslow.html

Ao abordar questões como autoridade, sacrifício, serviço, amor e vontade, o grupo percebeu que a liderança deve ser construída com base na autoridade e que o serviço e o sacrifício são necessários para se exercer autoridade. John entendeu que a liderança e a colheita têm as suas semelhanças: colhe-se o que se planta. Mas é essencial criar as condições adequadas para se ter um ambiente saudável. O amor é a base sobre a qual se constroem o sacrifício e o serviço. É um comportamento, não é um sentimento. A vontade é o fundamento do amor, é o resultado de um conjunto de intenções complementado com um conjunto de ações, pois as intenções sem as ações não são nada.
Resumindo, a liderança começa por uma vontade, ou seja, pela capacidade do ser humano em conjugar as intenções com as ações de forma a escolher o comportamento. Para escolher amar, ou seja, sentir as reais necessidades (não o desejo), dos que lidera, o líder necessita ter vontade. Para satisfazer as necessidades, é preciso servir e sacrificar-se. Quando serve e se sacrifica pelos outros, o líder exerce autoridade ou influência (a lógica da colheita). Quando exerce autoridade com as pessoas, o líder ganha o direito legítimo de ser visto como um líder.
Quando foram referidos alguns dos maiores líderes de todos os tempos, foi Jesus Cristo aquele que despertou mais interesse em John. O estilo de liderança de Jesus percebia-se pela grande influência e autoridade que teve, e tem ainda hoje, sobre as pessoas. Jesus afirmou que para liderar é preciso servir.
Jesus Cristo caracterizava-se pela paciência, bondade, humildade, respeito, abnegação, perdão, honestidade, compromisso, serviço e sacrifício.
A liderança de Jesus não era imposta, mas sim voluntária, pois o liderado seguia o líder não por medo, mas por acreditar nos seus ideais. Ele nunca usou o poder, nunca forçou ou coagiu ninguém a segui-lo. Jesus mudou o mundo sem exercer poder, apenas exerceu a influência. Jesus foi um líder que serviu. De acordo com John C. Maxwell (2013) “O tamanho de um líder não é o número de pessoas que o servem, mas o número de pessoas servidas pelo líder”. Um líder servidor (servant leader) prefere servir com dedicação, e respeitar aqueles que por ele são liderados.
John ficou muito agradecido a Simeão por este ter partilhado conhecimentos e experiências tão valiosas e por o ter ajudado a dar o primeiro passo rumo à sua nova vida.

CONCLUSÃO
A verdadeira liderança é difícil e requer muito esforço. Só com intenções, conjugadas com ações, é que se atinge a vontade de satisfazer as necessidades dos que se lideram, servindo e sacrificando-se para se exercer autoridade.
Amar os outros, dar-nos e liderar com autoridade, obriga-nos a abdicar do egoísmo e a ir ao encontro das pessoas.
É importante que o líder saiba ouvir os liderados. Ouvir é uma das capacidades mais importantes que um líder pode escolher desenvolver.
John definiu para si que liderança é a capacidade de identificar e de satisfazer necessidades.
No livro “O monge e executivo”, o autor James Hunter mostra-nos como podemos tornar-nos grandes líderes. Ao referir grandes líderes da humanidade, o autor realça o que os caracterizou e os tornou tão bem-sucedidos.
Jesus Cristo, e a sua liderança através da servidão, é o exemplo de um grande líder.
Trata-se de um livro muito bem estruturado e fundamentado, pelo que se compreende o enorme sucesso que teve e o facto de ser muito usado no estudo da liderança.
Devemos, sem dúvida, incluí-lo na lista dos livros a reler.

BIBLIOGRAFIA
   Ali, A. (2012). Leadership and its Influence in Organizations – A Review of Intellections. International Journal of Learning and Development, 2(6), 73–85. https://doi.org/10.5296/ijld.v2i6.2690
   Amanchukwu, R. N., Stanley, G. J., & Ololube, N. P. (2015). A Review of Leadership Theories, Principles and Styles and Their Relevance to Educational Management. Management, 5(1), 6–14. https://doi.org/10.5923/j.mm.20150501.02
   Bryman, A. (1992). Charisma and Leadership in Organizations. London.
   Carlyle, T. (1840). On Heroes, Hero Warship, and the Heroic in History.
   Drucker, P. F. (1996). Your Leadership Is Unique. Christianity Today International/LEADERSHIP, XVII(4), 54. Retrieved from http://boston.goarch.org/assets/files/your leadership is unique.pdf
     Hunter, J. C. (2018). James Hunter - training & consulting. Retrieved December 3, 2018, from http://www.jameshunter.com.br/index.html
Maslow, A. H. (1943). A Theory of Human Motivation. Psychological Review, 50(4), 370–396.
    Maxwell, J. C. (2013). Biblical foundation of Church leadership. In R. A. P.Varkey (Ed.). Mumbai: St. Paul. Retrieved from http://www.academia.edu/8655506/Biblical_foundation_of_Church_leadership
     Terry, G. (1960). The Principles of Management. Richard Irwin Inc., Homewood III.
Weber, M. (1922). The Theory of Social and Economic Organization. New York: Oxford University Press.
     Zakeer, A., Allah, N., & Irfan, K. (2016). Leadership Theories and Styles: A Literature Review. Journal of Resources Development and Management, 16. Retrieved from https://www.researchgate.net/publication/293885908_Leadership_Theories_and_Styles_A_Literature_Review



Para citar este texto:
Solteiro, Alfredo (2018). O Monge e o Executivo – Liderar é, antes de tudo, servir. Research oriented by PhD Patrícia Araújo within "Leadership and Negotiation" Curricular Unit and Presented at IPAM Leadership Challenge.3ª Ed. Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration. Available at: https://ipamleadershipchallenge.blogspot.com/2018/12/o-monge-e-o-executivo-liderar-e-antes.html
 

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