09 janeiro 2019

A Capacidade de Analisar Dados - Uma Book Review "Freakonomics" por Ana Cerqueira

   A Capacidade de Analisar Dados - Uma Book Review "Freakonomics" por Ana Cerqueira


Steven D. Levitt, considerado o jovem economista mais brilhante da América por um júri de economistas veteranos, tem uma perspectiva muito peculiar sobre o mundo, pensando de uma forma totalmente diferente de maior parte das pessoas e de maior parte dos economistas, o que o leva a fazer perguntas pouco vulgares e controversas, mas que acabam por ter muito sentido e dispor de explicações bastante coerentes com base em dados reais. Stephen J. Dubner, jornalista americano do New York Times, junta-se, assim, a Levitt para escrever Freakonomics, sendo considerado um co-autor do mesmo. Este introduz sobretudo as ideias chave de cada capítulo no início dos mesmos, explicando como Levitt acabou por escrever sobre determinados assuntos.

   Este livro procura, assim, questionar o que parece ser inquestionável, apresentando respostas constantes a essas perguntas através da análise de dados. Contrariamente ao que o ser humano está habituado a fazer, é fundamental ter uma opinião construtiva sobre determinado assunto, perceber verdadeiramente os seus detalhes, pois o conhecimento superficial acaba por se identificar, muitas das vezes, com o próprio senso comum. Assim sendo, a atitude deste autor altera completamente aquilo a que se assiste nos mais diversos contextos - respostas sem fundamento analítico -, pois este procura uma avaliação constante e honesta dos dados, oferecendo ao leitor uma surpreendente visão das diversas problemáticas em causa. Interligando ainda esta ideia com a questão da liderança, esta acaba por afirmar que os líderes devem agir com base em factos reais e não verdades que são dadas como adquiridas, pois tal pode enviesar os resultados expectados.

      Para o autor, a moral representa o modo como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse, já a economia representa a realidade, ou seja, a forma como o mundo realmente funciona. E é esta explicação que Levitt pretende que sustente todos os seus argumentos. A economia apresenta, assim, a forma como o mundo funciona com base em dados, contradizendo maioritariamente as respostas que se tinham como certas.

     Envolvido num jogo de perguntas controversas, o leitor é obrigado a adotar uma postura crítica, tentando abstrair-se de todas as suas ideias pré-concebidas sobre determinado assunto. Levitt considera que se for possível “pormos em questão qualquer coisa que interesse verdadeiramente às pessoas e descobrir uma resposta que as consiga surpreender – isto é, se conseguirmos dar a volta ao senso comum -, então pode ser que tenhamos alguma sorte” e se esteja a fazer as perguntas certas, que é o que este faz ao longo de todo o livro, não se chamasse o mesmo “Freakonomics”, uma atitude frenética pela procura do fundamento real dos dados.

       Levitt, tendo como base a sua profissão de economista, defende que “saber o que medir e como medir transforma um mundo complicado num mundo muito menos complicado”. Na verdade, se aprendermos a analisar os dados de forma correcta, conseguiremos explicar as mais diversas realidades de uma forma muito mais simples e fundamentada. Ainda no seguimento do funcionamento da economia, Levitt acredita que na vida, tal como na economia, somos movidos por fortes incentivos. Aliás, este considera que “os incentivos são a base da vida moderna”, sendo “uma bala, uma alavanca, uma chave: um objecto muitas vezes minúsculo, com um poder surpreendente para mudar uma situação”. Para além disso, Levitt menciona ainda que existem três tipos de incentivos: os económicos, os sociais e os morais, sendo que é frequente que um sistema de incentivos inclua os três tipos.

       De facto, a ideia de o ser humano atuar com base em incentivos constitui a ideia base do livro em causa, sendo que se define que “qualquer incentivo é em si um jogo de contrapartidas; o segredo está em encontrar o justo equilíbrio”. Assim sendo, o incentivo pode ter também um efeito perverso, contrário ao esperado, como pode ter um bom resultado. Inegável é que estes existem no nosso dia-a-dia, sendo o ser humano movido para atingir os mesmos. Verifique-se o caso das organizações, nomeadamente, o modelo carrot and sticks. Os incentivos funcionam como motivação extrínseca a um melhor desempenho, sendo que se este último não se concretizar com sucesso, existem formas para repreender a performance. Deste modo, é crucial perceber a origem dos incentivos, da motivação extrínseca, entendendo como se atua com base nos mesmos, para que se possa ser capaz de resolver determinadas questões e compreender determinados comportamentos, assumindo um maior autocontrolo sobre os próprios atos. Tal contribuirá para o desenvolvimento da motivação intrínseca, uma vez que permitirá a existência de mais controlo, mais autoconfiança, focos e objetivos fortes.

      A teoria de autodeterminação de Ryan &Decy dispõe de uma estrutura ampla para o estudo da motivação humana. Esta evidencia a importância de saber equilibrar quer as motivações intrínsecas quer as extrínsecas, de modo a criar contextos sociais positivos. Menciona ainda três necessidades básicas para garantir a capacidade de autodeterminação: a autonomia, a competência e a capacidade de conexão. Por outras palavras, para que um ser humano possa afirmar a sua autodeterminação, este deve ter autoconfiança e capacidade de escolha, deve estar conectado aos outros, valorizando os mesmos, bem como deve ter competência para se adaptar aos mais diversos contextos. 

    Levitt mostra, ainda, que existe sempre um ciclo motivacional. Num esforço para reduzir o desconforto ou satisfazer necessidades, as pessoas atuam de determinada forma para atingir os seus objetivos. Assim sendo, existe sempre uma necessidade, um impulso e uma ação que, por fim, molda um comportamento.

     Freakonomics é, assim, um livro que apela ao desenvolvimento da capacidade de análise dos pequenos detalhes e dados, que podem, de facto, explicar e fundamentar muitos argumentos. Para além disso, evidencia o quão o ser humano responde a incentivos e se move pelos mesmos, sendo aqui percebida uma grande dependência pela motivação extrínseca, contrariamente à própria motivação intrínseca. É, de facto, um livro para os amantes de perguntas controversas e para aqueles que pretendem aprender a fazer as perguntas certas, de modo a gerar mais conhecimento, evitando o conhecimento baseado no senso comum.

Referências Bibliográficas: 

D.Levitt Steven, J. D. S. (2006). Freakonomics.

Brankaert, R., Ouden, E. Den, Buchenau, M., Suri, J. F., de Valk, L., Bekker, T., … Bozarth, M. A. (2009). Experiential Probes: probing for emerging behavior patterns in everyday life. International Journal of Design, 9(1), 2880–2888. https://doi.org/10.1017/S1041610297004006


       


       Autora: Ana Cerqueira
        Contacto: aavcerqueira@gmail.com
        Perfil: Licenciada em Línguas e Relações Internacionais e a frequentar o Mestrado em Gestão de Marketing no IPAM. Resiliente, organizada, comunicativa e apaixonada por análise de mercados são as melhores características para me definir.  





Para citar este texto, utilize o seguinte MODELO de referencia bibliográfica:
Cerqueira, A. (2019). Book Review: A Capacidade de Analisar Dados. Research oriented by PhD Patrícia Araújo within "Leadership and Negotiation" Curricular Unit and Presented at Ipam Leadership Challenge.3ª Ed. Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration. Available at: https://ipamleadershipchallenge.blogspot.com/2019/01/a-capacidade-de-analisar-dados.html

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