09 janeiro 2019

"Creativity Inc" / "Criatividade – Como vencer as forças que bloqueiam a inspiração" - Uma Book Review por José Magro






Introdução

Escrito por Ed Catmull, Co-Founder da Pixar e atual presidente da Pixar Animation e Disney Animation, este livro retrata a história da Pixar, como Empresa, e dá a conhecer as experiências do autor como seu fundador e Presidente. Aqui, ele mostra como foi capaz de enfrentar todos os desafios presentes no crescimento da Empresa e ao mesmo tempo assegurar-se que tanto a Organização como o produto refletiam sempre os valores que a mesma defendia.

Nasceu em West Virginia mas mudou-se enquanto criança para o Utah. O seu sonho em criança era tornar-se animador e poder trabalhar na Disney. No entanto, formou-se em ciência dos computadores e acabou por seguir áreas relacionadas com matemática, física e informática.

Antes de existir animação por computador, Catmull já havia começado a programar e a desenvolver tecnologias de 2D e 3D. Na altura em que o autor estava no Instituto de Tecnologia de Nova Iorque, foi recrutado como chefe da Lucasfilm Computer Division. Entrentanto, em 1986, esta spin-off foi comprada pelo Steve Jobs e mais tarde, a partir desta mesma Empresa, foi criada a Pixar.

Notavelmente, ele refere no livro que foram necessários 20 anos para que conseguisse materializar a ideia que teve em 1974 de criar um filme, completo, de animação por computador. Esse feito foi conseguido através de uma parceria com a Disney, na qual ambas as Empresas juntaram esforços e recursos acabando por criar o Toy Story, em 1995, o primeiro filme de animação totalmente feito em computador.

Posteriormente em 2006 a Pixar foi vendida à Disney e Catmull tornou-se, também, presidente da Disney Animation. Neste novo cargo replicou com sucesso a abordagem da Pixar, tentando sempre preservar a herança única e que tanto amava da Disney.

Apesar de muito do conteúdo do livro ser acerca da criação da Pixar e do percurso profissional do autor. O mais importante para mim, como leitor, passa por toda a experiência e conhecimento que Ed Catmull transmite e que acaba por ser transformar em lições para o quem está a ler. São lições que a meu ver possuem um grau de profundidade enorme, pelas mudanças de paradigma que o autor sugere, sobretudo em temas relacionados com a Gestão de Empresas, e pela própria simplicidade das suas ideias que revelam um nível de consciência muito grande, acerca de ele próprio como indivíduo e da forma como interpreta tudo o que o rodeia.

São muitas as lições que podemos retirar deste livro, contudo irei apenas focar três delas. Apesar de parecerem poucas irão certamente dar que pensar.


Lição 1 - Grandes equipas são melhores que grandes ideias


Uma das citações mais populares do livro é a seguinte:
“Se dermos uma boa ideia a uma equipa medíocre, eles vão aniquilá-la. No entanto, se dermos uma ideia medíocre a uma equipa brilhante, eles das duas uma, ou a arranjam ou a deitam fora e conseguem algo melhor.”

Esta é uma daquelas questões acerca das quais nunca pensamos de forma intuitiva, contudo quando nos é apresentada sabemos que é verdade. Enquanto uma Empresa contratar pessoas talentosas, que trabalhem juntas e comuniquem livremente, as ideias acabam por não ser assim tão importantes, porque surgem naturalmente. Com a cultura certa dentro da Organização a “ideia” acaba por se ser algo orgânico, algo que passa de indivíduo em indivíduo de forma quase atómica, que ao ser levado para o seio de uma equipa, que a consiga trabalhar, entra num estado embrionário e que, no final, acaba por se materializar num Produto ou Serviço que nasceu da cocriação de vários elementos pertencentes a uma Organização.
Lição 2 - Os erros dizem respeito às equipas e nunca aos indivíduos. Todos são igualmente responsáveis

Falhar é humano e na Pixar todos são humanos! Em vez de se surpreenderem com o fracasso, todos os que lá trabalham reconhecem-no de antemão. Ao aceitarem que erros são apenas uma parte do acordo, todos conseguem preparar e reparar os seus projetos de forma iterativa, o que permite que grande parte dos erros, encontrados em cada projeto, possam ser eliminados e ao mesmo tempo sejam delineadas estratégias para que não se repitam novamente.
No mesmo seguimento, os erros cometidos na Pixar nunca são cometidos por indivíduos, apenas por equipas. Quando acontece alguma falha, toda a equipa é responsável e nenhum dedo é apontado a alguém em particular. Esta mentalidade leva a que os funcionários se sintam mais seguros pois a culpa é do todo e não de um indivíduo específico.
São muitas as Organizações que não assumem esta mentalidade, eu pessoalmente passei por algumas. Muitos de nós gostamos de dizer que errar é humano, contudo só o dizemos quando nos queremos defender de alguma situação em que nós próprios erramos , se o erro for de outro sujeito e nos afetar de alguma forma, por muito inocente ou despropositado que tenha sido, esta expressão já não é válida para a pessoa que o cometeu. Assim e nas palavras do autor:
 “O trabalho do Gestor não é evitar riscos. O trabalho do Gestor é garantir que os riscos estão controlados para que outros os possam tomar.”

Falhar é exatamente isso. Apenas quando todos se sentem seguros para arriscar é que se consegue um ambiente em que todos têm coragem para serem criativos. A criatividade passa por explorar, por experimentar, por nos deixar levar e testar limites. Apesar destas ações estarem associadas a grandes margens de erro, são, no entanto, necessárias para que o ser humano possa criar algo inovador e disruptivo.
Lição 3 – Os processos não são os objetivos

 “Tornar o processo melhor, mais fácil e barato é uma aspiração importante, algo em que trabalhamos de forma continua – mas esse não é o objetivo. Fazer algo espetacular, esse sim é o objetivo.”

Vivemos num mundo onde os processos dentro das organizações são essenciais. Como gestores e como funcionários, temos imenso orgulho, em nós mesmos, em adotar processos que façam com que tudo dentro da Empresa funcione da forma mais eficaz. Efetivamente eles são uma parte integrante e basilar de uma Organização, contudo entregar algo de maravilhoso e útil ao cliente deve ser sem dúvida a maior satisfação e preocupação da Organização e de todos aqueles que nela trabalham. Os processos operacionalizam e automatizam uma série de tarefas essenciais para o funcionamento de um Empresa, contudo são muitas vezes um bloqueio para a criação, quando são colocados em primeiro plano. 
Um processo é algo que, a meu ver, agrega valor a um objetivo e que possibilita que este se último se materialize. Na minha perspetiva, primeiramente, uma Organização tem de ter um ponto de partida, isto é, o tal objetivo. Pode ser um conceito, uma ideia ou até uma possível solução para um problema. Primeiramente tem de imaginar, de sonhar com aquilo que realmente quer criar e só depois de tudo estar devidamente alinhado, em rascunho, é que deve começar a pensar nos processos e como é que os mesmos vão ser agregados, de forma a acrescentar valor e materializar o produto ou serviço.
Nota Final


Esta é uma obra fantástica para conhecermos a história de uma Empresa tão emblemática como a Pixar. Contudo, mais interessante do que isso é conhecer as abordagens, as políticas e as atividades que autor adotou para alcançar o tipo de cultura que existe atualmente nesta Organização.
Posso dizer sem qualquer dúvida que este é um livro fundamental para qualquer pessoa que esteja inserida no mercado de trabalho. Apesar da obra retratar a experiência do autor como gestor de uma grande Empresa, este livro acaba por ser fundamental para todos, sejam funcionários ou gestores, pela forma como nos obriga a pensar em formas de gerir que acabam por sair da norma mas que ainda assim resultam.
Bibliografia

Catmull, Ed (2015), Criatividade – Como vencer as forças que bloqueiam a inspiração. Clube do Autor

Dados Pessoais
Autor: José Luis Alves Magro
Email: josemagro1989@gmail.com
Perfil: Formado em Design e Engenharia Informática, sou um entusiasta de tudo o que está ligado à Tecnologia e Inovação. Neste momento trabalho como programador, adoro fazer o que faço e considero-me um sortudo por poder acrescentar valor ao mundo através da arte que tanto adoro.

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