20 novembro 2019

Book Review - “The Allure of Toxic Leaders: Why We Follow Destructive Bosses and Corrupt Politicians – and How We Can Survive Them”


Book Review

“The Allure of Toxic Leaders: Why We Follow Destructive Bosses and Corrupt Politicians – and How We Can Survive Them” 

Liderança Tóxica



Na sua essência, este livro explora um paradoxo ambivalente, cuja teoria assenta na nossa busca por um líder tóxico ou na criação de um. Assim, centrado mais nos liderados, do que no líder, este livro reflete sobre as atitudes dos followers – explicando o seu porquê à luz da psicologia – e o fascínio e atração por este tipo de líder, mesmo quando reconhecem os atos desonestos que este pratica.


A autora desta obra é Jean Lipman-Blumen, tem 86 anos e é considerada uma expert em Liderança, gestão de crises e comportamento organizacional, tendo realizado o doutoramento em Relações Sociais, na Universidade de Harvard. “Em 2010, ela recebeu o Lifetime Achievement Award da International Leadership Association, um prémio que “honra as realizações de um indivíduo no desenvolvimento e aprimoramento do campo de liderança ao longo de sua vida.””  (CGU, s.d.)

O livro estende-se ao longo de 13 capítulos, onde são exploradas várias teorias, desde os traços caracterizadores dos líderes tóxicos, desde o seu impacto na mente dos liderados, assim como das necessidades psicológicas que estes procuram satisfazer através dos líderes, liderança em âmbito de crise até à forma como nos podemos libertar dos líderes tóxicos. A autora procura incluir um pouco da sua área de estudo – política pública e comportamento organizacional – ilustrando as várias teorias com figuras da história com impacto na temática, como Adolf Hitler e Henry Ford.

                No Prefácio, a autora começa por nos dizer que:
                        “Os líderes tóxicos espalham o seu feitiço de forma ampla. A maioria de nós afirma que os abomina. Ainda assim, nós seguimo-los frequentemente – ou pelo menos toleramos – sejam eles nossos empregadores, CEOs, senadores, o nosso clero ou nossos professores. Quando os líderes tóxicos não aparecem por si próprios, temos tendência para os procurar. Às vezes nós até os criamos, empurrando os bons líderes para lá da linha tóxica.”  (Lipman-Blumen, 2006)
            Esta é a premissa do livro: procurar explicar este paradoxo ambivalente, percebendo, psicologicamente, porque sentimos essa necessidade de seguir um líder tóxico, ou de criar um, e estabelecendo estratégias para podermos reconhecer, evitar e escapar de um líder destrutivo e corrupto. Mas, primeiramente, é essencial entender como é que, sabendo que este tipo de líderes são autores de decisões cruéis e atos desonestos, nos conseguimos deixar fascinar e ser atraídos por eles.

            Jean considera o conceito de “líderes tóxicos” demasiado complexo para se conseguir definir numa frase, até porque até os mais “santos líderes” conseguem agir e tomar decisões pouco corretas e honestas. Contudo, a complexidade do conceito envolve toda uma análise multidimensional que defina as ações que estes realizam, o seu caráter e as suas intenções, assim como o impacto que originam. E é por isto que se torna ainda mais complexo: além de envolver várias dimensões psicológicas, essas dimensões não se manifestam de forma igual em todos eles.

“Quando os líderes enganam constantemente os seus apoiantes, onde é que se traça a linha entre o ato de mentir e a falha no caráter incorporado que não vê problema em abusar da verdade?” (Limpan-Blumen, 2006)

            Assim, o conceito “líderes tóxicos” acaba por se referir a uma marca global de líderes que manifestam comportamentos destrutivos, cujo objetivo é causar danos sérios nos seus seguidores, e reúnem determinadas características pessoais disfuncionais. O caráter intencional é essencial na descrição de líderes tóxicos, pois é isso que os distingue de líderes que, sem se aperceberem, tomam decisões que causam efeitos negativos na população que lideram.

                Os comportamentos destrutivos vão desde comportamentos ponderados, ao envolvimento consciente a comportamentos tóxicos inconscientes. Para se poder considerar um “líder tóxico” ele deve reunir um ou mais dos comportamentos descritos:
  • Deixar os seus seguidores numa posição pior àquela em que os encontraram, através da eliminação de parte da população – intimidando, manipulando, aterrorizando e menosprezando;
  • Violar os direitos humanos básicos dos que o apoiam, assim como dos que não o apoiam;
  • Alimentar, de forma constante, os followers com ilusões que potenciem o poder do líder e prejudiquem a capacidade dos seguidores de agirem de forma independente, convencendo-os de que só eles conseguem salvar o líder;
  • Jogar com os medos e as necessidades dos seguidores;
  • Levar os seus seguidores a acreditar em “verdades enganosas”;
  • Criar regimes totalitários;
  • Tratar bem os seus followers, mas persuadi-los a odiar e destruir os outros.

            Algumas das características que compõe o perfil de um líder tóxico estão intimamente relacionadas com o ego, seja este alto ou baixo. Considere-se o narcisismo e a megalomania: são características observadas na maioria dos líderes tóxicos da história. Essa busca insaciável por poder é o que os motiva a serem tóxicos, apesar de o narcisistas procurar ser amado e o megalómano procurar ser temido. No entanto, apesar de associarmos sempre o ego elevado a este tipo de líderes – devido à sua posição carismática, embora arrogante – alguns líderes são tóxicos por falta desse ego, agindo sempre à luz da cobardia.

            Neste sentido, é necessário ter em conta quais são as características pessoais disfuncionais de um líder tóxico:
  • Falta de integridade que marca o líder como cínico, corrupto, hipócrita e de pouca confiança;
  • Ambição insaciável que leva os líderes a sobrepor o seu poder e glória acima do bem-estar dos seus seguidores;
  • Arrogância que os impede de se responsabilizarem pelos seus erros – o que os leva a atribuir a culpa aos outros;
  • Amoralidade que os impossibilita de distinguir o certo do errado;
  • Falha em entender a origem dos problemas e em agir de forma eficiente em situações que os obrigue a liderar;
  • Cobardice que os diminui na hora de tomada de decisões difíceis.


            Porém, tal como foi referido anteriormente, o foco da obra incide sobre os followers e as suas necessidades psicológicas que motivam a sua busca por líderes. E são elas que nos seduzem e levam a acreditar que os líderes tóxicos irão conseguir cumprir as suas promessas, normalmente assentes num trio específico: “Manter-nos seguros, fazer-nos sentir especiais, e oferecer-nos um lugar na mesa da comunidade” (Limpan-Blumen, Chapter 2 - Within Ourselves: Psychological Needs That Make Us Seek Leaders, 2006).

            Essas nossas necessidades psicológicas são exploradas pelos líderes tóxicos e estão divididas em quatro necessidades base:
  • Necessidade de Autoridade – Intimamente relacionada com a relação parental, na infância. Crescemos a aprender a obedecer e a cumprir regras, em troca das necessidades básicas que os nossos pais se encarregavam de colmatar, como comida, roupa e abrigo.
  • Necessidade de Segurança – Apesar de na fase adolescente se procurar a libertação dessa mesma autoridade, a verdade é que ela nos mantém com os pés na terra e nos dava uma sensação de segurança.
  • Necessidade de se Sentir Especial – É, essencialmente, a necessidade de nos sentirmos “o escolhido”, dentro de todos os outros indivíduos.
  • Necessidade de Pertença – Embora exista essa necessidade de nos sentirmos especiais como pessoa, existe também a necessidade de sentir que fazemos parte de algo – um grupo ou uma comunidade.

         Mas também se encontram divididas em dois medos:
  • Medo da Ostracização – O receio de serem excluídos da sociedade ou de um grupo do qual eram membro é uma das motivações mais fortes nos followers. Existe uma pressão em permanecer incluído e parte de algo.
  • Medo da Impotência – Os liderados perdem a capacidade de se impor e admitir a sua revolta, sentindo-se muitas vezes impotentes em derrubar o líder.


            Posto isto, a autora acredita que se desenvolvermos as nossas competências do eu, conseguindo compreendê-las. A autora acaba o livro dizendo “Assim, através da autonomia e da liberdade, conseguimos encontrar a força interior para não apenas escapar, mas rejeitar – resolutamente e repetidamente – o fascínio pelos líderes tóxicos”.

Breve descrição:

Margarida Varajão Barbosa, tem 21 anos e frequenta o mestrado de Gestão de Marketing, no IPAM Porto. Considera a sua licenciatura em Ciências da Comunicação uma das melhores decisões da sua vida, assim como a sua carreira no voleibol que, apesar de já ter acabado, lhe fez conquistar dois campeonatos nacionais. margaridavbarbosa@hotmail.com

                Crítica – Desde sempre curiosa, especialmente interessada em Psicologia e no conhecimento das nossas emoções, decidi escolher este livro por poder associar com uma temática mais “sombria”, mas bastante interessante e relevante para os dias de hoje. Gostei de o ler, assim como gostei de escrever e consolidar os seus ensinamentos.

Referências Bibliográficas:

CGU. (s.d.). Jean Lipman-Blumen. Obtido de Drucker School of Management: Claremont Graduate University: https://www.cgu.edu/people/jean-lipman-blumen/
Limpan-Blumen, J. (2006). Chapter 1 - The Big Picture. Em J. Limpan-Blumen, The Allure of Toxic Leaders: Why we Follow Destructive Bosses and Corrupt Politicians - and How We Can Survive Them (pp. 17-41). Oxford University Press.
Limpan-Blumen, J. (2006). Chapter 2 - Within Ourselves: Psychological Needs That Make Us Seek Leaders. Em J. Limpan-Blumen, The Allure of Toxic Leaders: Whe we Follow Destructive Bosses and Corrupt Politicians - and How We Can Survive Them (pp. 44-63). Oxford University Press.
Lipman-Blumen, J. (2006). Prefácio. Em J. Lipman-Blumen, The Allure of Toxic Leaders: Why we Follow Destructive Bosses and Corrupt Politicians - and How we Can Survive Them (pp. 10-11). Oxford University Press.

Referência para citação:

Barbosa, M. (2019). Book Review “The Allure of Toxic Leaders: Why We Follow Destructive Bosses and Corrupt Politicians – and How We Can Survive Them”. Research oriented by PhD Patrícia Araújo within "Leadership and Negotiation" Curricular Unit and Presented at IPAM Leadership Challenge. 4ª Ed. Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration.

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