24 novembro 2019

Os Sonhos enquanto motor de desenvolvimento das organizações: resenha crítica ao livro "O Gestor de Sonhos" - JOana Castro


Sobre o autor


Matthew Kelly é um orador e escritor americano que conta já com milhares de conferências nos quatro cantos do mundo e milhões de livros vendidos, estando no top do USA Today, New York Times, Publishers Weekly, entre outras. Atuou em inúmeras palestras e influenciou, com as suas palavras e sentido de humor, inúmeras organizações, equipas e chefias de topo.
O seu livro é considerado por muitos, como uma importante contribuição para a literatura de liderança e gestão de equipas.

“O sonho comanda a vida”

É com este mote, que Mathew Kelly nos desafia a refletir sobre uma forma de gestão de recursos humanos inovadora, baseada naquilo que, tal como a famosa frase de António Gedeão indica, comanda a vida: os sonhos.
Estima-se que 1/3 das nossas vidas seja passada no trabalho. Por muitas tentativas ou investigações que se façam, há problema atual que parece não ter uma solução tão simples quanto parece: a luta pelo talento, retenção e motivação de equipas e colaboradores. É este, segundo Kelly o grande desafio dos gestores modernos sendo que, só será capaz de sobreviver aquele que fizer dos seus empregados a melhor versão de si própria. De facto, remete-nos para a teoria da Liderança Transformacional (Bass, Avolio, Jung e Berson, 2003), onde estão presentes as quatro dimensões desta teoria como: influência idealizada (líderes carismáticos capazes de gerarem admiração entre colaboradores); motivação inspiracional pelo facto do exemplo começar também pelo topo; estimulação intelectual, pela procura do crescimento profissional e pessoal dos colaboradores da empresa e, por fim, a consideração individualizada presente no principal tópico do livro que abordarei mais adiante.

O livro

O livro gira em torno de uma empresa fictícia de serviços de limpeza dos Estados Unidos, a Admiral Janitorial Services e o seu grave problema que “atormentava” as chefias e gestores: o gigante nível de turnover da organização que rondava os 400%. Isto significa que a empresa a nível anual tem um gasto brutal a contratar novos colaboradores a cada três meses.
O que caracterizava esta empresa segundo muito dos seus gestores? O facto dos seus colaboradores não terem qualquer tipo de objetivos ou sonhos de vida por estarem a desempenhar uma função aparentemente “sem futuro”.  Para colmatar esta falha e dar um novo rumo à empresa, há uma série de tentativas por parte da chefia em compreender os motivos que fazem os seus colaboradores saírem da empresa. Para tal, entregam a cada um dos seus colaboradores um inquérito respondido de forma anónima com a questão central.
Após vários inquéritos lançados, a resposta estava precisamente no aspeto que muitos consideravam que os colaboradores padeciam de: sonhos. É nesta palavra que entramos na forma proposta por Kelly em gerir, motivar e desenvolver aquilo que é o motor de uma empresa: o seu capital humano.
Da teoria à prática, Kelly mostra-nos num abrir e fechar de olhos como este modo de gestão poderá funcionar com qualquer empresa, até mesmo com os perfis mais resistentes à mudança. A criação de um Departamento dedicado à gestão de sonhos dos seus colaboradores. Em cada parágrafo do livro, Matthew consegue passar de uma forma consistente a sua convicção de que, para uma empresa ser a melhor versão de si própria, é necessário ter a melhor versão dos seus colaboradores. E isto só acontece se tivermos uma relação de simbiose entre organização e funcionários.
A solução que resolveu o problema da empresa passou precisamente pelas mãos de um gestor de sonhos, dedicado a ouvir os seus colaboradores a ajudá-los a concretizar os seus sonhos. Parece óbvio? Ou utópico? Segundo o autor, inovador e revolucionário são o ADN deste modo de gestão. Os funcionários acabaram por se sentir realizados e este sentido de preenchimento não ficou só pelos funcionários. Ascendeu também a funções de topo e pessoas que não se acreditavam neste método até o experienciarem.
Diria que a obra se divide essencialmente em 4 partes:
·             Problema: chamada de atenção para uma problemática atual que afeta milhares de organizações e colaboradores.
·             Teoria: proposta de um método revolucionário designado como “Gestor de Sonhos”, um colaborador da empresa cuja função principal passa por acompanhar de forma individual todo os funcionários e dar resposta aos seus sonhos de vida.
·             Prática: descrição de forma pormenorizada da aplicação deste método na empresa fictícia e o seu impacto pós-implementação.
·             Reflexão: depois dos exemplos práticos, o leitor é levado a refletir sob as palavras do autor. “Será que isto resultaria na minha empresa?” ou “Será esta a gestão mais eficaz de pessoas?”, são algumas das questões que se colocam de forma automática no decorrer da leitura.

Visão crítica da obra

Kelly oferece-nos de forma detalhada todos os passos para implementar a iniciativa do Gestor de Sonhos nas empresas. Quer seja uma empresa de Tecnologia da Informação ou uma empresa de Serviços Financeiros, o autor comprova como este conceito pode ser aplicado de forma universal e convida cada um de nós a experienciá-lo.
A verdade é que para os leitores mais resistentes, este conceito poderá parecer utópico e inconcebível mas valerá a pena testar, na medida em que este tipo de liderança através do investimento pessoal e profissional é a meu ver, a solução mais eficaz para combater a “dor de cabeça” de muitas organizações.
Matthew demonstra-nos em duas grandes secções a teoria e a prática deste conceito e como muitas vezes, e como muitas vezes as soluções mais simples estão muitas vezes à nossa frente.

Considerações finais

Com uma leitura bastante ritmada e objetiva, o livro da autoria de Matthew Kelly cumpre a sua função: suscita uma intensa reflexão sobre o modo como gerimos pessoas, a sua motivação e sobre o impacto que uma organização e/ou chefia pode ter na vida dos seus colaboradores tanto a nível profissional, como pessoal. Traz-nos também uma abordagem revolucionária e, ao mesmo tempo, que parece tão “simples” na medida em que a resposta está à vista de todos.
A verdade é que na vida somos movidos por metas que vamos delineando. Aquilo que nos faz crescer e sentirmo-nos preenchidos é saber que alcançamos esses objetivos. Que cumprimos um sonho quer seja no nível físico, como no nível intelectual. Cumprir sonhos, desperta a vontade de querermos ainda mais, de sermos mais. 

Experiência enquanto Book Reviewer

Desde o inicio, o livro suscitou-me uma atitude de reflexão, em que o leitor se “obriga” a pensar “Será que isto resultaria na minha empresa?”. A verdade é que tendo entrado para o mundo do trabalho recentemente e tendo uma experiência em duas organizações distintas, consigo comparar dois modos de gestão bem diferentes.
As duas organizações têm algo que as diferencia e que é precisamente a problemática da empresa fictícia do livro: o índice de turnover. Na primeira, encontramos uma taxa de rotatividade muito alta, uma gestão focada nos números e a existência de um departamento próprio de gestão de talento, denominado Talent Retention and Motivation. Na segunda, o índice de turnover é bastante baixo senão existe um departamento “próprio” para reter colaboradores.
A título pessoal, penso que certas organizações estarão mais céticas à decisão de implementar um departamento de Gestão de Sonhos dos seus Colaboradores. No entanto, creio que todas as organizações poderiam dar uma oportunidade a este tipo de gestão e deixarem-se ser surpreendidos. Grande parte do nosso tempo é dedicado ao período laboral. Somos capazes numa semana de passar mais tempo com a nossa equipa de trabalho do que propriamente com os nossos familiares e amigos. Então porque não fazer do tempo que dedicamos ao trabalho, um período feliz capaz de influenciar também a nossa vida pessoal e vice-versa? É aqui que a organização desempenha um papel fulcral enquanto “gestora” do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Uma pessoa que se sente e é feliz no trabalho, acaba inevitavelmente por transpor essa felicidade para a sua vida pessoal.
A verdade é que os colaboradores se submetem muitas a vezes a estarem sob situações de grande pressão e stress, não tendo a capacidade de “desligar” do seu trabalho nos momentos em que o devem fazer. O ritmo frenético e extremamente competitivo leva a situações de desgaste e burnout que são muitas vezes desvalorizadas.
Se contribuímos e acrescentamos valor a uma organização, se investimos tanto tempo das nossas vidas no trabalho, porque não termos uma retribuição desse investimento?



Bibliografia

KELLY, Matthew. (2007) O Gestor de Sonhos: Como motivar uma equipa para o sucesso. [S. l.]: Beacon Publishing, 2007.

Citação

Castro, J. (2019) Os sonhos enquanto motor de crescimento das organizações: resenha crítica ao livro “O Gestor de Sonhos” de Matthew Kelly. Research oriented by Phd Patrícia Araújo within “Leadership and Negotiation” Curricular Unit and Presented at Ipam Leadership Challenge. 3ª Ed.Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration. Available at: https://ipamleadershipchallenge.blogspot.com/2019/


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