Sobre o autor
Matthew Kelly é um orador e escritor americano que conta já com milhares de conferências nos quatro cantos do mundo e milhões de livros vendidos, estando no top do USA Today, New York Times, Publishers Weekly, entre outras. Atuou em inúmeras palestras e influenciou, com as suas palavras e sentido de humor, inúmeras organizações, equipas e chefias de topo.
O seu livro é considerado por muitos,
como uma importante contribuição para a literatura de liderança e gestão de
equipas.
“O sonho comanda a vida”
É com este mote, que Mathew Kelly nos
desafia a refletir sobre uma forma de gestão de recursos humanos inovadora,
baseada naquilo que, tal como a famosa frase de António Gedeão indica, comanda
a vida: os sonhos.
Estima-se que 1/3 das nossas vidas seja
passada no trabalho. Por muitas tentativas ou investigações que se façam, há
problema atual que parece não ter uma solução tão simples quanto parece: a luta
pelo talento, retenção e motivação de equipas e colaboradores. É este, segundo
Kelly o grande desafio dos gestores modernos sendo que, só será capaz de
sobreviver aquele que fizer dos seus empregados a melhor versão de si própria.
De facto, remete-nos para a teoria da Liderança Transformacional (Bass, Avolio,
Jung e Berson, 2003), onde estão presentes as quatro dimensões desta teoria
como: influência idealizada (líderes carismáticos capazes de gerarem admiração
entre colaboradores); motivação inspiracional pelo facto do exemplo começar
também pelo topo; estimulação intelectual, pela procura do crescimento
profissional e pessoal dos colaboradores da empresa e, por fim, a consideração
individualizada presente no principal tópico do livro que abordarei mais
adiante.
O livro
O livro gira em torno de uma empresa
fictícia de serviços de limpeza dos Estados Unidos, a Admiral Janitorial Services e o seu grave problema que
“atormentava” as chefias e gestores: o gigante nível de turnover da organização que rondava os 400%. Isto significa que a
empresa a nível anual tem um gasto brutal a contratar novos colaboradores a
cada três meses.
O que caracterizava esta empresa segundo
muito dos seus gestores? O facto dos seus colaboradores não terem qualquer tipo
de objetivos ou sonhos de vida por estarem a desempenhar uma função
aparentemente “sem futuro”. Para colmatar
esta falha e dar um novo rumo à empresa, há uma série de tentativas por parte
da chefia em compreender os motivos que fazem os seus colaboradores saírem da
empresa. Para tal, entregam a cada um dos seus colaboradores um inquérito
respondido de forma anónima com a questão central.
Após vários inquéritos lançados, a
resposta estava precisamente no aspeto que muitos consideravam que os
colaboradores padeciam de: sonhos. É nesta palavra que entramos na forma
proposta por Kelly em gerir, motivar e desenvolver aquilo que é o motor de uma
empresa: o seu capital humano.
Da teoria à prática, Kelly mostra-nos num
abrir e fechar de olhos como este modo de gestão poderá funcionar com qualquer
empresa, até mesmo com os perfis mais resistentes à mudança. A criação de um
Departamento dedicado à gestão de sonhos dos seus colaboradores. Em cada
parágrafo do livro, Matthew consegue passar de uma forma consistente a sua
convicção de que, para uma empresa ser a melhor versão de si própria, é
necessário ter a melhor versão dos seus colaboradores. E isto só acontece se
tivermos uma relação de simbiose entre organização e funcionários.
A solução que resolveu o problema da
empresa passou precisamente pelas mãos de um gestor de sonhos, dedicado a ouvir
os seus colaboradores a ajudá-los a concretizar os seus sonhos. Parece óbvio?
Ou utópico? Segundo o autor, inovador e revolucionário são o ADN deste modo de
gestão. Os funcionários acabaram por se sentir realizados e este sentido de
preenchimento não ficou só pelos funcionários. Ascendeu também a funções de topo
e pessoas que não se acreditavam neste método até o experienciarem.
Diria que a obra se divide essencialmente
em 4 partes:
·
Problema:
chamada de atenção para uma problemática atual que afeta milhares de
organizações e colaboradores.
·
Teoria:
proposta de um método revolucionário designado como “Gestor de Sonhos”, um
colaborador da empresa cuja função principal passa por acompanhar de forma
individual todo os funcionários e dar resposta aos seus sonhos de vida.
·
Prática:
descrição de forma pormenorizada da aplicação deste método na empresa fictícia
e o seu impacto pós-implementação.
·
Reflexão:
depois dos exemplos práticos, o leitor é levado a refletir sob as palavras do
autor. “Será que isto resultaria na minha empresa?” ou “Será esta a gestão mais
eficaz de pessoas?”, são algumas das questões que se colocam de forma
automática no decorrer da leitura.
Visão crítica da obra
Kelly oferece-nos de forma detalhada
todos os passos para implementar a iniciativa do Gestor de Sonhos nas empresas.
Quer seja uma empresa de Tecnologia da Informação ou uma empresa de Serviços
Financeiros, o autor comprova como este conceito pode ser aplicado de forma
universal e convida cada um de nós a experienciá-lo.
A verdade é que para os leitores mais
resistentes, este conceito poderá parecer utópico e inconcebível mas valerá a
pena testar, na medida em que este tipo de liderança através do investimento
pessoal e profissional é a meu ver, a solução mais eficaz para combater a “dor
de cabeça” de muitas organizações.
Matthew demonstra-nos em duas grandes
secções a teoria e a prática deste conceito e como muitas vezes, e como muitas
vezes as soluções mais simples estão muitas vezes à nossa frente.
Considerações finais
Com uma leitura bastante ritmada e
objetiva, o livro da autoria de Matthew Kelly cumpre a sua função: suscita uma
intensa reflexão sobre o modo como gerimos pessoas, a sua motivação e sobre o
impacto que uma organização e/ou chefia pode ter na vida dos seus colaboradores
tanto a nível profissional, como pessoal. Traz-nos também uma abordagem
revolucionária e, ao mesmo tempo, que parece tão “simples” na medida em que a
resposta está à vista de todos.
A verdade é que na vida somos movidos por
metas que vamos delineando. Aquilo que nos faz crescer e sentirmo-nos
preenchidos é saber que alcançamos esses objetivos. Que cumprimos um sonho quer
seja no nível físico, como no nível intelectual. Cumprir sonhos, desperta a
vontade de querermos ainda mais, de sermos mais.
Experiência enquanto Book
Reviewer
Desde o inicio, o livro suscitou-me uma
atitude de reflexão, em que o leitor se “obriga” a pensar “Será que isto
resultaria na minha empresa?”. A verdade é que tendo entrado para o mundo do
trabalho recentemente e tendo uma experiência em duas organizações distintas,
consigo comparar dois modos de gestão bem diferentes.
As duas organizações têm algo que as
diferencia e que é precisamente a problemática da empresa fictícia do livro: o
índice de turnover. Na primeira, encontramos uma taxa de rotatividade muito
alta, uma gestão focada nos números e a existência de um departamento próprio
de gestão de talento, denominado Talent
Retention and Motivation. Na segunda, o índice de turnover é bastante baixo senão existe um departamento “próprio” para reter colaboradores.
A título pessoal, penso que certas
organizações estarão mais céticas à decisão de implementar um departamento de
Gestão de Sonhos dos seus Colaboradores. No entanto, creio que todas as
organizações poderiam dar uma oportunidade a este tipo de gestão e deixarem-se ser
surpreendidos. Grande parte do nosso tempo
é dedicado ao período laboral. Somos capazes numa semana de passar mais tempo
com a nossa equipa de trabalho do que propriamente com os nossos familiares e
amigos. Então porque não fazer do tempo que dedicamos ao trabalho, um período
feliz capaz de influenciar também a nossa vida pessoal e vice-versa? É aqui que
a organização desempenha um papel fulcral enquanto “gestora” do equilíbrio
entre a vida pessoal e profissional. Uma pessoa que se sente e é feliz no
trabalho, acaba inevitavelmente por transpor essa felicidade para a sua vida
pessoal.
A verdade é que os colaboradores se
submetem muitas a vezes a estarem sob situações de grande pressão e stress, não
tendo a capacidade de “desligar” do seu trabalho nos momentos em que o devem
fazer. O ritmo frenético e extremamente competitivo leva a situações de
desgaste e burnout que são muitas vezes desvalorizadas.
Se contribuímos e acrescentamos valor a
uma organização, se investimos tanto tempo das nossas vidas no trabalho, porque
não termos uma retribuição desse investimento?
Bibliografia
KELLY, Matthew. (2007) O
Gestor de Sonhos: Como motivar uma equipa para o sucesso. [S.
l.]: Beacon Publishing, 2007.
Citação
Castro, J. (2019) Os sonhos enquanto
motor de crescimento das organizações: resenha crítica ao livro “O Gestor de
Sonhos” de Matthew Kelly. Research oriented by Phd Patrícia Araújo within
“Leadership and Negotiation” Curricular Unit and Presented at Ipam Leadership
Challenge. 3ª Ed.Porto: Portuguese Institute of Marketing and Administration.
Available at: https://ipamleadershipchallenge.blogspot.com/2019/
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